segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Entrevista com Marcio Freitas da Creche Gente Inocente

O que é a Rede de Tecnologia Social?
É uma organização democrática, dialógica, que organiza, articula e integra um conjunto de instituições públicas e privadas detentores de recursos necessários à reaplicação, difusão, desenvolvimento, acompanhamento e/ou avaliação de Tecnologias Sociais.
Como funciona a RTS?
O funcionamento da RTS se dá através do propósito de contribuir para o desenvolvimento sustentável, promovendo a difusão e a reaplicação de Tecnologias Sociais em escala, tecnologias essas compreendidas em produtos, técnicas ou metodologias reaplicáveis desenvolvidas na interação com a comunidade e que representam efetivas soluções de transformação social. A RTS tem ainda o propósito de estimular a adoção de Tecnologias Sociais como políticas públicas; A apropriação das Tecnologias Sociais por parte das comunidades e o desenvolvimento de novas Tecnologias Sociais, nos casos em que não existam para reaplicação.
Para participar?
Para participar da RTS as instituições interessadas deverão acessar o site http://www.rts.org.br/ e clicar no link Faça Parte da RTS, ler os termos do acordo da Declaração de Propósito Coletivo e os Princípios da RTS, preencher esse Manifesto de Interesse e o Termo de Adesão. Após esses procedimentos, a proposta de adesão a Rede será submetida ao Comitê Coordenador da RTS para aprovação. A participação dos interessados poderá ocorrer nas categorias de Mantenedor: que garante o funcionamento da Rede, disponibilizando recursos para a infra-estrutura, difusão e comunicação, reaplicação, avaliação e/ou desenvolvimento de tecnologias sociais. Investidor: que disponibiliza recursos financeiros e/ou materiais para difusão, reaplicação, avaliação e desenvolvimento de tecnologias sociais. Articulador de Redes Sociais: que mobiliza o conjunto de organizações não governamentais, movimentos sociais, regionais ou nacionais que representa. Detentor de TS: que disponibiliza a Tecnologia Social e a metodologia para reaplicação. Reaplicador: que coordena a reaplicação da TS na comunidade. Divulgador: que realiza ações de divulgação sobre a RTS. ·.
Como se deu a inclusão da Creche na Rede? Quanto tempo tem?
A inclusão da Creche Escola Gente Inocente de Governador Valadares na RTS se deu após realizarmos, no ano de 2006, pesquisas na internet relacionadas ao tema Tecnologia Social. Há três anos nossa instituição articula com a RTS, se destacando como a primeira instituição do interior de Minas Gerais a integrar-se a RTS e a única do Estado a participar consecutivamente do. 1° e 2° Fórum Nacional da RTS e da Conferência Internacional de Tecnologia Social.
Quais as vantagens de se participar da Rede? O que você diria das Entidades da nossa cidade?
As vantagens de estarmos articulados na RTS são inúmeras, mas destacamos principalmente a conectividade com os outros organismos sociais que articulam, realizam e disponibilizam tecnologias possíveis de serem reaplicadas na nossa comunidade. Diríamos que participar da RTS é estar com as portas e janelas das nossas instituições abertas para a entrada de técnicas que melhoram a qualidade de vida das comunidades as quais estamos inseridos. As entidades da nossa cidade e as que esse informativo alcançar. Não percam a oportunidade, integrem-se, articulem-se, façam parte da Rede de Tecnologias Sociais e também contribuam para o desenvolvimento sustentável e para a interação da comunidade que representam, levando a elas, efetivas soluções de transformação social.
Comente a experiência nos 1° E 2° Fórum Nacional da RTS.
Em 2006, representando a Creche Escola Gente Inocente de Governador Valadares, participamos do 1° Fórum Nacional da RTS que reuniu 285 participantes de todo o país, entre os dias 5 e 8 de dezembro de 2006, em Salvador/BA. Todas as despesas aéreas e hospedagem foram custeadas pela RTS. As abordagens nesse 1º Fórum teve como tema “Tecnologia Social, uma nova cultura de participação para o desenvolvimento sustentável”, o Fórum foi um momento histórico para nós e para Rede de Tecnologia Social. Pela primeira vez, reuniram-se as instituições que aderiram à Rede. Com a nossa participação tivemos a oportunidade de aprofundamos no conceito de Tecnologia Social, entendendo sua relação com políticas públicas, com geração de trabalho e renda, além colaborarmos com a dinâmica da RTS para elaboração de estratégias para o Biênio 2007-2008.
Fale mais quanto a participação nesse Fórum.
A participação nesse fórum nos fez entender que a nossa instituição, apesar de se fazer inserida na comunidade com o desenvolvimento de diversas tecnologias sociais, dentre elas a de geração de trabalho e renda, ainda se portava simplesmente como uma creche, focada no atendimento a crianças de 0 a 6 anos, apesar de possuir um grande potencial para atender as demandas da comunidade do bairro Santa Rita, com uma população estimada de 35.000 habitantes. Então, com o acesso as informações repassadas durante o fórum, decidimos voar alto, apresentando a proposta de mudanças no estatuto, nomenclatura e funções da instituição, através de um projeto que têm previsão para conclusão outubro deste ano.
Fale mais sobre esse processo de mudança.
Durante esse processo de mudança de Creche Escola Gente Inocente de Governador Valadares - CEGIGV para Pólo Referencial da Família, do Idoso da Criança e Adolescente, Creche e Escola Gente Inocente – PRAFICA – CEGI, demos início ao primeiro grande investimento em tecnologia social, em parceria com praia e peças íntimas, congregando um grupo de vinte e cinco mulheres da comunidade, que hoje passam por processo de incubadora para consolidação de uma cooperativa de produção comunitária. Sucesso total. Este ano, no período de 13 a 17 de abril, estivemos em Brasília, onde participamos do 2º Fórum Nacional da Rede de Tecnologia Social que teve como pauta, soluções simples e de baixo custo capazes de gerar trabalho e renda com sustentabilidade e, da 2ª Conferência Internacional de Tecnologia Social que teve como foco o debate sobre o papel da tecnologia para a inclusão social em nível internacional com o tema “Caminhos para Sustentabilidade”.o CIAAT e a Fundação Banco do Brasil, instituindo no ano de 2007 o projeto Sol Nascente, voltado para geração de trabalho e renda através da confecção em malha, moda a
Quais Foram os outros participantes?
Durante os encontros estiveram presentes gestores de instituições públicas e privadas, lideranças comunitárias, empreendedores sociais e representantes de organizações de pesquisa de nove países (Angola, Argentina, Brasil, Canadá, Espanha, México, Peru, Uruguai e Venezuela). Na ocasião ocorreram palestras e mesas-redondas, além de exposição de painéis apresentando as experiências nacionais e internacionais no campo das Tecnologias Sociais (TSs), tanto na área urbana como na área rural. Foi um excelente momento para compartilharmos experiências.
Com caráter consultivo e propositivo, o encontro serviu também para orientar o planejamento da Rede para 2009 e 2010. Por isso, mais uma vez convidamos a sua instituição para também fazer parte da RTS como primeiro passo para participar conosco do próximo fórum e conferência.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009


Quando a união faz a força.


Por Milton Boechat

- Governador Valadares é uma cidade permeada de histórias que englobam os mais diversos personagens, em sua maioria gente humilde, de hábitos simples e que carrega no sentimento de pertença local uma característica própria: Senso de solidariedade e participação mútua. Isso pode ser visto, como dito anteriormente, nos mais diversos aspectos e não seria diferente no âmbito comercial.

- Na mesa do valadarense sempre figurou uma infinidade de produtos, e dentre esses não poderia faltar as verduras e legumes oriundos de propriedades rurais da região quando não, do próprio quintal.
- Por ser tratar de uma cidade pólo, o crescimento populacional tornou-se um fato que acarretou algumas mudanças no costume da população. Na década de 50 com o crescimento populacional e as novas modalidades comerciais, diminuiu-se a produção de hortifrutigranjeiro que deram lugar à cultura do gado de corte e leite.
- Mesmo assim os produtores da agricultura familiar da região conseguiam produzir e vender suas mercadorias no comércio local e também diretamente ao consumidor. Esse comércio, geralmente, era feito nas ruas e sem a presença dos atravessadores. Como se diz no velho e bom jeito mineiro, muita água passou debaixo da ponte e com elas muitas mudanças surgiram...
- Em 2003, após longas discussões, debates, pesquisas e aprovações de projetos deu-se a concretização da FAF – Feira da Agricultura Familiar. Dentro das discussões burocráticas o sentimento de solidariedade falou mais alto e surgiu também a preocupação em dar apoio aos empreendimentos solidários urbanos que não tinham espaço para a comercialização.
- Em setembro de 2004 criou-se a Associação de Cooperativa Mista da Feira da agricultura Familiar Agroecológica –ACOMFAFA. Esta associação é composta por pessoas da zona rural e urbana, que cuidam desde a coordenação da feira até a venda dos produtos. Ela ocorre todas as sextas-feiras, na Rua José Luiz Nogueira, próximo ao Mercado Municipal. Ao todo são 18 barracas que comercializam hortaliças, legumes e frutas da época. Nesse espaço de gente humilde sobra tempo para uma preocupação por parte de cada um dos envolvidos: além de um preço melhor e que traz benefício de comercialização a cada feirante, eles oferecem aos consumidores da cidade produtos limpos e sem aditivos químicos. Percebe-se assim não somente o desejo de vender produtos mais sim de oferecer saúde.

Quando um sonho se torna realidade

Por Milton Boechat

- Essa é a história de três mulheres, da cidade de Governador Valadares, que vislumbraram uma possibilidade de melhoria de vida, através do reaproveitamento do óleo de cozinha para a fabricação de sabão. A personagem principal é a dona de casa Marlene Maria da Silva Neto, 43 anos, casada e mãe de um garoto de 16 anos, que juntamente com as amigas, Maria Trajano e Lúcia Marques amadureceram uma idéia e formam, hoje, uma Cooperativa, com 20 associados, a “Sabão Ecológico Rio Limpo”.
- Marlene nos conta que após muitas decepções profissionais e a insatisfação com o mercado de trabalho, amadureceu uma idéia antiga de ter o seu próprio negócio. “Eu estava infeliz como o trabalho que realizava e sempre pensava em crescer e me libertar das atividades que não me davam aquilo que eu e minha família precisávamos”. Marlene conta que mesmo tendo um sonho em mente ela não deixou de trabalhar pra fora, afinal, ela tinha que auxiliar o marido com as despesas domésticas. Um dia ela conversava com sua irmã, moradora cidade de Periquito, que disse a ela que através da venda de “chuk”, (suco congelado em sacolinhas), ela conseguia manter a casa e outras despesas mais. A partir daí a dona de casa viu que o sonho de ter um negócio próprio poderia também se tornar realidade.
- Marlene, uma mulher de muita fé e sempre voltada para as coisas da igreja que freqüenta disse que através de uma experiência pessoal com Deus, muitas orações e desejo, viu seu sonho ganhar forma. Ela conta ainda que uma frase lhe chamou a atenção e assim deu os passos iniciais. “Um dia eu li uma frase que dizia – Uns eternos sonhadores, já outros realizadores”. Desde então não ficou de braços cruzados e correu atrás do seu sonho.
Observando a fabricação de sabão que já era realizado pelas moças da pastoral, da igreja católica do bairro São Paulo, Marlene Neto elaborou um plano de ação, juntou outras duas amigas, acreditou na real possibilidade e assim, juntas, deram início a uma modesta força de trabalho para fabricação do sabão ecológico. Ela nos conta que no amadurecimento da idéia pensou também na questão ambiental e reaproveitar o óleo seria uma alternativa correta de não prejudicar o meio ambiente. Após diversas reuniões perceberam que o despejo do óleo de cozinha em pias ou diretamente no rio gerava um grande impacto ambiental. Viram também que isso poderia ser mudado e nesse sentido, preocupações com o meio ambiente aliado a necessidade de geração de renda, levou as pessoas do bairro a se unirem.

- “No início tudo era muito incipiente, nós juntávamos o que sobrava em nossas casas, pedia o óleo que seria descartado às vizinhas ou nos comércios da região, transportava o óleo em grandes latões, improvisado em uma bicicleta, outras vezes de carro ou a pé. Íamos de casa em casa, recebia das mais diversas formas o material que se tornaria num futuro não muito distante uma realidade para mim e outras dezesseis pessoas aqui bairro aonde todos residem”.
- O “Sabão Rio Limpo” além de uma realidade é a soma de esforços conjuntos, consolidando-se assim numa fonte de renda para essas famílias. A pequena empresa recebeu o apóio do Centro de Informação e Assessoria Técnica (Ciaat), que através do investimento das Fundações Banco do Brasil e Western Union Foudation, fizeram um repasse de verba para que as atividades tomassem formas reais e concretas. Foram feitos investimentos em maquinários e ainda, através da Incubadora de Projetos é fornecido a eles apóio técnico necessário para o andamento dos negócios. "Estamos montando ainda a estrutura para receber o maquinário, que ainda está sendo comprado com assessoria do CIAAT, e o grupo será incubado para a viabilização do negócio, colocação do produto o mercado, etc.".
- Hoje, após um processo de sensibilização realizado na região atestou-se a viabilidade do empreendimento e conseguiram-se muitos colaboradores na doação de óleo. A produção ainda é feita de forma modesta, porém, trazendo resultados visíveis para cada um dos envolvidos. O sonho de Marlene Neto e suas amigas foi concretizado e o sonho de uma fonte de renda própria uma realidade.